Acidente com acetona

Em uma solitária sexta-feira à noite em novembro passado tomei a infeliz decisão de assistir uma série qualquer em meu notebook sentada na cama enquanto pintava as unhas. Prelúdio do desastre, no dia anterior gabei-me sem ressalvas dos resultados positivos alcançados com os cuidados em meu antigo notebook, o qual continua em operação nas mãos de minha mãe após 7 anos de uso e nunca, eu disse NUNCA, deu problema.

Circo devidamente armado, eu debaixo da coberta com o computador a frente na mesinha própria para usar na cama, kit unha (alicate, lixinha, esmalte, algodão e acetona, aquele produto inflamável e corrosivo utilizado para remover esmalte, superinofensivo :S) espalhado pela cama, dei início aos trabalhos. Mão esquerda só sucesso! Chega a hora da aplicação trêmula da direita. Tudo correndo bem aí recebo uma mensagem no whatsapp e entra em ação o meu instinto feminino maldito de fazer trocentas coisas ao mesmo tempo e invento de, além de usar o notebook e fazer a unha, responder a tal mensagem.  Num instante de bobeira apoiei a acetona no notebook e a manga da minha blusa esbarrou no vidro… Nãããããoooooo!!!! Gostaria de dizer que vi tudo em câmera lenta, mas na real aconteceu  bem rápido, quando a acetona espalhou pelo teclado lembro de ter sentido um vazio no cérebro, como se minha sanidade tivesse sido comprometida naquele momento. Drama queen, eu?? Jamais.

Em desespero sequei o que consegui alcançar e apliquei os procedimentos básicos utilizados ao serem derrubados líquidos em computadores. 1. Ligar em prantos para o namorado (número 1 na lista de qualquer canceriana em situações do gênero). 2. Desligar o PC e separar as peças. 3. Se xingar até dizer chega. 4. Secador de cabelo nele! 5. Esperar até o dia seguinte para ligar o aparelho. Se algum dia parar para ler o manual, é capaz de encontrar estas mesmas instruções nas letras miúdas… ou pelo menos no Yahoo! Respostas.

No dia seguinte, o caos. Nada funcionava, às vezes ligava, às vezes não. Ajuda da vizinha que entende de informática sem sucesso, me preparo para a facada… em euros. Aí recebo a facada no ego pelo celular “Égua! Quer dizer que a acetona de Portugal demora um dia pra secar? Aí o negócio é lento mesmo, hein? Bjs do Pai”. Quem mandou avisar o pai que ia ficar sem Skype, né?

Segunda vou à assistência técnica e conforme conto o ocorrido os olhos já grandes da atendente foram se arregalando de uma tal maneira a me passar cada vez menos segurança na recuperação do pobre coitado. A atendente recebe o computador e com a admirável sinceridade sem rodeios portuguesa diz-me “Prepare-se, pois talvez não haja muito a ser feito”. Meu mundo caiu.

Observação 1: quando for mudar de país, não esqueça as notas fiscais de seus equipamentos, pois só vais precisar delas quando estiveres a milhares de quilômetros de distância.

Um mês para receber o notebook de volta. Um mês durante o qual o técnico ficou doente e não pôde analisar o PC, devolveu-me ‘consertado’ e ao assistir a tal série (ok, assumo, era novela) pifou novamente, perdi um trabalho da faculdade, enfrentei uma manifestação da população portuguesa contra o governo para busca-lo a segunda vez (quem mandou contratar uma assistência perto da sede do governo?) para chegar a faculdade e ele não funcionar mais uma vez, descobri várias funções até então inexploradas do meu celular, fiz promessa de ir na corda na trasladação do Círio de Nazaré e recebi o pior diagnóstico possível, o problema estava ou no processador ou na placa-mãe. A doença terminal dos PCs.

Observação 2: os portugueses sabem fazer uma manifestação pacífica, viu? O Brasil tem muito que aprender nesse aspecto.

Observação 3: Só faça promessas que possa cumprir! Tipo, passei a vida toda perto do círio pra fazer promessa quando estou do outro lado do oceano, doida eu.

Quando o técnico me disse suas suspeitas, precisei segurar o choro. Acompanhe o meu raciocínio, quando se está longe, o computador não é só uma ferramenta, é seu companheiro, sua comunicação com os queridos distantes. E quando não se tem bolsa de estudos, bem qualquer centavo conta, quer dizer, cêntimo e a despesa para comprar um notebook novo não está tão cedo nos meus planos. O fato é que o técnico ficou compadecido da minha situação e como ele mesmo me disse já tinha enfrentado vários desafios em se tratar de líquidos, de água a xixi de gato, porém o meu caso era inédito e complicado. Claro!

Na véspera do Natal, conformada em pagar caro por um notebook novo, pois até o representante da marca havia desenganado o meu note, eis que recebo o telefonema do técnico me dizendo que achou uma pequena corrosão na placa-mãe, a limpou e o computador estava operando bem.  Milagre natalino!!!!

Observação 4: Não perca a esperança.

Observação 5: nunca, em nenhuma hipótese, pinte as unhas enquanto utiliza o computador!

Ah, sim! Me foi cobrado apenas o valor da mão-de-obra.

 

Um comentário em “Acidente com acetona

Deixe um comentário